Nem tudo que reluz é ouro, já dizia o ditado. E, afinal, quem disse que uma série famosa e bem querida só vai ter jogos bons em sua carreira? Resident Evil tá aí para provar que não é bem assim. O game já teve suas mazelas da vida em ocasiões passadas, como os fracos Gun Survivor e também os dois Outbreaks, que tiveram lá seus fãs, mas não são exatamente excelentes jogos.
Agora chegou a vez de Resident Evil: Operation Raccoon City, game que vem com dois objetivos. O primeiro é comemorar os 15 anos da série com um game que relembra velhos tempos – de certa forma. O segundo objetivo é simplesmente apresentar a série para uma parcela de jogadores que ainda não a conhece, com um formato diferente. Mas, é aí que a Capcom, melhor dizendo, a SlantSix começou a pisar na bola.
Operation Raccoon City, de certa forma, é um problema. É um problema para os fãs antigos e também para quem está chegando agora na saga de horror da Capcom. Primeiro que o game não te lembra em nenhum momento um verdadeiro Resident Evil, mas por outro lado serve como uma experiência totalmente nova para a série – ainda que os fãs tradicionais possam reclamar bastante.
REORC começa em 1998, mesma época em que se passam os primeiros episódios da série. Também é quando um esquadrão especial da Umbrella entra nas entranhas de Raccoon City para, inicialmente, recuperar algo que é da própria companhia. A missão se complica quando passa a ser, basicamente, ''eliminar todos'' que estão presentes em Raccoon City, para que não existam testemunhas do incidente com o T-Virus.
Como é uma ''homenagem'' aos fãs antigos, o game literalmente não dá a mínima a jogadores novatos em termos de história e não se preocupa em situar ninguém sobre o que está acontecendo. A equipe da Umbrella (''aliás, quem é Umbrella?'') invade um local e é isso aí, parabéns se você se preocupar em ler a história em uma Wikipedia da vida, já que o jogo não vai te informar nada disso. Tudo bem, é intencional, já que é uma ''homenagem'', mas não dava para rolar nem um resuminho?
Isso segue por toda a história. Há a participação de Hunk, o ''quarto sobrevivente'' de um modo secreto em Resident Evil 2, mas também não há grandes explicações sobre quem é ele e para onde ele vai.
Bom, mas pouco importa se o game não é lá muito explicativo, pois a jogabilidade é muito boa, não é? Nem tanto. Operation Raccoon City é totalmente baseado no gênero de tiro em terceira pessoa e deixa de lado o horror e sobrevivência. O problema é que a jogabilidade é um pouco mal trabalhada e sofre com alguns bugs apesar da Capcom já ter lançado uma atualização para a correção de muitos deles. Fique tranquilo, fã, Operation Raccoon City não é nenhum Skyrim.
O game se parece com SOCOM não por acaso, já que o estúdio Slant Six também trabalhou nessa série, tanto no esquema de jogo quanto na jogabilidade de tiro em terceira pessoa com sistema de cobertura e mais.
De longe, parece um jogo de tiro em terceira pessoa normal, com direito a sistema de cobertura, mas o funcionamento não é muito convencional e há elementos forçados. Digamos que seu personagem não possui rolamento ou movimentação rápida entre coberturas – em determinado momento ele simplesmente se joga no chão, quando você pressiona um botão que deveria funcionar para rolamentos.
O sistema de cobertura é um pouco burro. Funciona de forma automática, mas não de forma precisa. Basta se aproximar de uma barreira com o personagem para se proteger, mas não há como se esgueirar para outra cobertura próxima ou fazer movimentos mais suaves a não ser pela mira. Para mudar de cobertura é preciso sair da atual e ir para uma próxima.
Uma das coisas que nos irrita gravemente em jogos de tiro em geral é a questão do feedback, o retorno que o jogador tem ao atirar nos seus alvos. Alguns games tiram isso de letra, seja visualmente ou por meio de outros artifícios, mas em Operation Raccoon City a produtora parece não ter se preocupado com isso. A coisa é meio que aleatória. Atirar em inimigos não te passa a impressão de que você está trazendo alguma dor a eles. Alguns ficam até mesmo na exata posição tomando os tiros, sem ser afetado – tenso. Em outros casos, inimigos recebem tiros na cabeça e não caem na mesma hora, é preciso mais um pente inteiro para abater. Em outros casos, bastam poucos tiros no corpo para limpar os alvos. Um erro como este é inexplicável.
Defensores de Resident Evil: Operation Raccoon City podem alegar que o game é mais voltado para o multiplayer. Ele é mesmo! E é aí que mora um pouco da diversão que os fãs podem encontrar. Apesar da história curta, ela fica um pouco melhor e mais agradável ao ser encarada com amigos no modo online. É possível jogar até com outras três pessoas, formando uma equipe de quatro soldados da Umbrella altamente armados e treinados.
O multiplayer é até divertido, dá até para ignorar um pouco os mesmos bugs da campanha para um jogador e também os problemas de jogabilidade. As partidas competitivas para até oito jogadores permitem modos versus e também incluem a participação de figuras famosas da série Resident Evil, como os protagonistas de RE 2 e RE 3 no modo Heroes, o que é bem legal, na verdade.
Este modo Heroes, inclusive, é um dos mais interessantes, já que os mapas não contam apenas com a ameaça do time inimigo, mas também estão recheados de zumbis, Hunters, Lickers e até criaturas mais assustadoras em alguns casos. Esta e outras opções tornam o game uma opção multiplayer interessante para quem é fã de Resident Evil e também para quem curte jogos de tiro em terceira pessoa. Ah, vale registrar que não há cooperativo local, o que é um pouco caído.
Em termos gráficos, o game nos parece limpo e bem modelado de longe, mas não impressiona tanto de perto. Ele simplesmente não enche os olhos, sem chegar a comprometer, apesar de alguns pequenos problemas que podem incomodar – muitos zumbis iguais povoam os ambientes, ambientes estes que são pouco inspirados. Mas um dos maiores problemas está na conta de luz que a Capcom deve ter esquecido de pagar. Em seu modo padrão de iluminação é possível ficar perdido em alguns cenários, onde você não consegue enxergar nada, simplesmente nada.
Resident Evil: Operation Raccoon City é uma experiência bem diferente do que os fãs da série estão acostumados. Inicialmente, vai ser um jogo difícil de engolir, tanto pela jogabilidade diferente, quanto pela história ou ausência de quebra-cabeças característicos da saga. Aqui a ordem suprema é atirar em tudo que se mexe até o caminho estar limpo, o que pode tornar o jogo desinteressante para quem for se arriscar no modo de um jogador. Porém, o multiplayer dá uma recuperada no fôlego e oferece boas opções que garantem a longevidade do título, seja no competitivo ou no cooperativo, que engloba o modo de história. É sem dúvidas um produto controverso, mas que deve achar seus fãs.
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